
Quando criança adorava mexer no lixo, onde eu morava era rua de chão, sem asfalto, lá pelos anos de 1967, no fundo da cidade tinha um buracão, onde o pessoal jogava o lixo.
Quando ia à casa da minha tia tinha que passar por lá, íamos a pé, era um passo, a cidade era pequena e minha tia morava em uma chácara.
Naquele tempo a avon tinha um perfume que a tampa era laranja, creio que o perfume era topázio, e eu adorava achar essa tampa escondida quando andava na rua. Era como se procurássemos um tesouro enterrado e só eu na minha inocência e imaginação o achasse. Que valor inestimável era aquela tampa transformada em pedra preciosa, pois em minha imaginação tinha contos de fada. Eu viajava, entrava em mundos imaginários onde tudo era ao meu contento.
No fundo de minha casa tinha um pomar, onde também, claro era jogado essas tampinhas, papéis, objetos que não tinham mais valor e de certa forma era o meu esconderijo, eu e minhas irmãs brincávamos lá de todas as brincadeiras de infância.
Um dia fizemos enterro de borboleta, guardávamos caixinha de fósforo e matávamos as borboletas e colocávamos lá dentro e fazíamos o tal do enterro. Era tão divertido e inocente, rezávamos, enterrávamos e colocávamos até a lapide, um enterro perfeito, sem esquecer nada.
Pobres galinhas e pintinhos adoravam correr atrás e pegá-las pelos pés, meu avô dizia que só se casaria quando a galinha criasse dente, ou fizesse xixi, ahahhah, imagine as pobres coitadas como era observada, dia após dia, será que hoje ela tinha dente? E o xixi? Onde ela fazia? Elas não tinham paz. Coitadas.
Com o tempo passa tudo, mas algumas manias sempre permanecem como grudada na personalidade da pessoa. Os lixos de uma forma ou de outra, fizeram parte da minha vida pra sempre. Tenho dificuldade de separar lixos bons de lixo ruim, isso em todos os sentidos.
Na minha casa quanto mais eu limpo os armários mais papéis e objetos entram, guardo pedaços de fita, pedaços de papéis, pedaços de lembranças como se um dia fosse voltar e tivesse que estar aí como prova de minha espera.
Nas amizades também tenho dificuldade de separar o bom do ruim, deixo pessoas lixo entrarem na minha vida, povoar e egoisticamente me fazer mal.
Não sei jogar fora.
Hoje já não acho mais topázio na rua, mas ainda ando olhando pro chão na esperança de achar um tesouro.
Myrian Benatti
Quando ia à casa da minha tia tinha que passar por lá, íamos a pé, era um passo, a cidade era pequena e minha tia morava em uma chácara.
Naquele tempo a avon tinha um perfume que a tampa era laranja, creio que o perfume era topázio, e eu adorava achar essa tampa escondida quando andava na rua. Era como se procurássemos um tesouro enterrado e só eu na minha inocência e imaginação o achasse. Que valor inestimável era aquela tampa transformada em pedra preciosa, pois em minha imaginação tinha contos de fada. Eu viajava, entrava em mundos imaginários onde tudo era ao meu contento.
No fundo de minha casa tinha um pomar, onde também, claro era jogado essas tampinhas, papéis, objetos que não tinham mais valor e de certa forma era o meu esconderijo, eu e minhas irmãs brincávamos lá de todas as brincadeiras de infância.
Um dia fizemos enterro de borboleta, guardávamos caixinha de fósforo e matávamos as borboletas e colocávamos lá dentro e fazíamos o tal do enterro. Era tão divertido e inocente, rezávamos, enterrávamos e colocávamos até a lapide, um enterro perfeito, sem esquecer nada.
Pobres galinhas e pintinhos adoravam correr atrás e pegá-las pelos pés, meu avô dizia que só se casaria quando a galinha criasse dente, ou fizesse xixi, ahahhah, imagine as pobres coitadas como era observada, dia após dia, será que hoje ela tinha dente? E o xixi? Onde ela fazia? Elas não tinham paz. Coitadas.
Com o tempo passa tudo, mas algumas manias sempre permanecem como grudada na personalidade da pessoa. Os lixos de uma forma ou de outra, fizeram parte da minha vida pra sempre. Tenho dificuldade de separar lixos bons de lixo ruim, isso em todos os sentidos.
Na minha casa quanto mais eu limpo os armários mais papéis e objetos entram, guardo pedaços de fita, pedaços de papéis, pedaços de lembranças como se um dia fosse voltar e tivesse que estar aí como prova de minha espera.
Nas amizades também tenho dificuldade de separar o bom do ruim, deixo pessoas lixo entrarem na minha vida, povoar e egoisticamente me fazer mal.
Não sei jogar fora.
Hoje já não acho mais topázio na rua, mas ainda ando olhando pro chão na esperança de achar um tesouro.
Myrian Benatti
Um comentário:
Myrian menina querida, adorei saber um pouquinho de sua infância e a pureza da criança mexendo e remexendo lixos para achar tesouros. E o mais lindo saber que vc preserva a pureza e a inocência da criança.
Beijos carinhosos
Sandra Lúcia
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