quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

mudança


Há dois dias minha vizinha esta mudando, é trem que não acaba mais, caixas e mais caixas, deve estar toda a sua vida aí dentro, esta não é a primeira vez que ela muda do meu prédio, mas parece que não tinha tantas quinquilharias antes. A primeira vez que ela mudou foi pra uma casa e depois ela voltou a morar aqui e fez a mudança quase que nos próprios braços e agora foi dois dias de desce caixa, embala caixa, põe o piano, a bicicleta, geladeira, e as compras feitas do momento.
Parece que desta vez ela vai pra sempre.
Outro dia ela me confessou que não agüentava mais mudar, muda pra casa, muda pra fazenda, sai de Curitiba, vem pro interior, toda vez que muda leva um pouco, deixa um pouco no coração das pessoas.
Fazendo um análogo da situação eu tenho dificuldade de mudar em tudo.
Desde relações até mesmo em situações que precise tomar rumos diferentes.
Olhando os homens da mudança que levavam as caixas eu pensava que quando eu tivesse que mudar eu levaria quase uma semana pra sair da minha casa tamanha é a quantidade de objetos, lembranças, e lixos que eu não jogo fora.
Resolvi então sou mais fácil eu não sair de casa, o que sempre faço quando tenho que mudar algo, eu penso o quanto é difícil à mudança o quanto é difícil mexer no que está aí parado, pra que mexer? Pra que? Mudaria onde? E para onde? E se eu mudasse mudaria algo?
Por que mudar não é só de lugar, é o interior também, e esse interior que é difícil à mudança.
No sentido profissional não tentei o suficiente, não mudei meu jeito de pensar, não lutei o suficiente pra ser uma profissional, continuei o caminho que sempre caminhei, o meu.
Esqueci de crescer.
Levei um bom tempo pra perceber isso, nem quando casei, nem quando tive filhos.
Queria que minha vida fosse como era no antigamente, sem as mudanças que a vida dá, mesmo que no meu passado eu também tinha dificuldades de terminar algo, era arroubo da juventude, era o que eu pensava.
Tinha dificuldades de terminar um texto, um tricô, um namoro, deixava tudo acontecer, ou deixava pra lá o que não tinha fim.
Mas hoje olhando o caminhão de mudança eu percebi que tenho medo, medo de não dar certo e ter que voltar com tudo pra dentro de mim, voltar com tudo pra dentro de um lugar que eu tentei me libertar.
Um dia eu pensei em mudar pra fora de casa, mudar por fora, me arrumei, fiz regime, mas nada adianta se você não mudar por dentro.
Resolvi mudar por dentro e mudei minha vida por um bom tempo e com isso apaziguou minha ânsia de mudança, não mais era necessário sair.
Resolvi crescer.
É muito dura essa caminhada, às vezes gostaria de voltar ao colo de minha mãe e dar a mão ao meu pai para que eles me conduzam ao caminho mais certo, algumas vezes até peço uma ajuda quando a dificuldade é muito grande, mas na maioria eu tenho que decidir sozinha.
Quando jovem tinha um pensamento, não voltava atrás quando decidia algo, era como se eu me traísse e os outros não confiasse mais em mim, com o passar do tempo fui mudando esse pensamento, eu era muito dura comigo mesma.
Só que agora quero por em prática alguns dos pensamentos que eu tinha, porque quando se é jovem se tem coragem, e com o passar dos anos vamos deixando por medo da solidão esses conceitos.
Não mais deixarei pessoa alguma me magoar.
A mudança que eu farei será a minha mudança, mudarei a mim, mas não para agradar aos outros.
Não.
Apenas para agradar a mim.




Myrian Benatti

2 comentários:

Unknown disse...

Bárbaro o texto!
É assim mesmo que as vezes nos entimos...querendo que alguém dirija nosso rumo para que não nos preocupemos com nada.Mas sabe, mudar é muito bom...digo isso por experiência própria.Também era feito você, com medo...mas depois aflorei uma camaleoa...rss e já mudei tanto, quer seja de casa, de trabalho, de circulo de colegas, e isso é muito bom porque nos tira do comodismo, do que a gente não gosta tanto.Experimente!Saia, mude...
Bjs

Jeremias disse...

o ser humano é realmente um poço de inquietações!
gostei muito do seu texto,com certesa um dos mais reflexivos q já vi publicado por vc.
muitas vezes nos sentimos assim com essa inquietude q faz da gente um escravo de ansiedades e angústias.
magnifico um retrato da dependencia humana de um orientador perfeito...seria esse DEUS?... o criador!

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Sou poesia,sou procura, sou ilusão.

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Desde mocinha eu escrevia poesias, cada vez que eu terminava uma paixão, eu fazia um poema, cada tristeza, alegria,cada olhar maroto.Acho que porisso me tornei uma poetiza, pq sempre estive apaixonada.As lágrimas que eu derramava se transformavam em sementes, em letras, em textos, em poemas.Ainda hoje faço isso, qdo estou triste com alguém eu escrevo uma poesia, cada poesia minha tem uma história.É como a semente que transformou em árvore.(MyrianBenatti)