Faz tanto tempo que não pego no lápis pra escrever, falar de amor, de saudades, de dor.
Nem sei se posso começar a falar destes sentimentos. Sou muito repetitiva, já foi notado e criticado por pessoas próximas a mim, falo sempre do mesmo tema, minha vida gira quase em torno de sentimentos, então acabo ficando repetitiva ao escrever o que sinto.
Outro dia enquanto viajava reparei na estrada, em locais que eu passava que não é só da escrita que o poema pode surgir. Pode ser de uma fotografia, de sons, tudo ao nosso redor emana arte. Na ida fiz uma pergunta a mim mesma.
De onde nasce a poesia? De onde ela surge?
Sempre escrevi quando estava triste, melancólica, então ela vinha lá de dentro do meu ser, uma palavra mais bonita. Do meu âmago.
Quando estava viajando pela estrada do Paraná pude notar que a poesia vem dos olhos, da paz de espírito do momento em que em encontrava.
Então não são apenas os olhos que vê a beleza, é minha alma que completa a janela da contemplação.
Cada lugar que eu passava eu imaginava mentalmente uma imagem que poderia ser tirada com uma máquina fotográfica que estava guardada na mala. As cidades a qual eu passei são cidades antigas que ainda guardam muito de prédios velhos abandonados. Cada lugar tem sua história, um passado que tirado fotos dariam poemas diferentes para cada pessoa que lessem com os olhos do momento. Mas eu perdi a chance.
Perdi muito dos meus pensamentos ao longo da estrada.
Quando viajo levo sempre folhas para escrever, desta vez fui levar meus filhos pra morar na capital do estado, foi uma viagem longa e de algum modo apertado, não tinha espaço pra folhas ao vento. Embora a viagem fosse de despedidas meus olhos viam poesia para todo o canto.
Na volta com o carro vazio, mesma pessoa, mesmos olhos, mesmas estradas e agora munida de máquina e papel. Não enxerguei nada. Procurei até os prédios abandonados, nada achei, meu coração estava apertado. Não consegui ver beleza, nem a poesia, nada.
Andei tirando foto a esmo, algumas ficaram lindas, consigo imaginar estradas, passagem.
Quem sabe outra pessoa não enxergue poesia nelas.
Quem sabe eu daqui um tempo também não escreva sobre elas.
Hoje são fotos.
Tiradas da janela do meu carro vindo embora pra uma casa vazia.
Myrian Benatti
imagem tirada de Morretes - Pr